Os escravos do ter!
“A inadimplência está crescendo”; “Meu salário não é suficiente”. “Quando penso que vou poder guardar, preciso gastar” e assim muitas outras frases.
Capitalismo: influência ou supremacia do capital. Supremacia significa superioridade ou grandeza maior que todas as outras. Pelas próprias definições quem mais tem, tem também a superioridade sobre as demais pessoas. Isso é como é entendido e é praticado. É como é estimulado pelos comportamentos midiáticos, políticos, etc.
Há uma distorção na interpretação das definições, pois é inegável que cem é maior, é superior a dez, mas quem tem cem é um ser humano como o que tem dez. Os dois possuem os mesmos direitos e deveres. Qual é a definição de democracia? O governo para o povo, direitos iguais, sem distinção de raça, cor ou credo.
O direito de quem tem cem de usá-los na aquisição do que deseja e que não é possível para quem tem apenas dez, não dá ao primeiro o poder nem direitos sobre o possuidor de dez, desconsiderando-o e colocando-se então acima de qualquer situação.
Pois bem. Sempre que o indivíduo esta vivendo sob a sujeição, o comando de algo ou alguém, ele esta escravizado.
A intenção não é fazer nenhum tipo de apologia, seja política, religiosa ou mesmo social. Então por que falar sobre o tema? Apenas para abrir mais as portas da compreensão para tantos que estão vivendo fortes depressões, grandes crises conjugais, enormes insatisfações, intranqüilidade “eterna” por não poderem relaxar um minuto sequer, em função de seus compromissos financeiros, que estão constantemente para “explodirem”.
A Oniomania, “doença que consiste em forte compulsão por comprar”, gerou a criação de grupos como os Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, chama-se Devedores Anônimos. Nesses grupos as pessoas buscam poder controlar a compulsão que as cega, fazendo-as adquirirem sem nenhum equilíbrio ou consciência do ato. Só após é que se dão conta, mas aí é tarde.
A grande maioria não atinge o ponto da patologia citada, mas se tornam escravos das “contas a pagar”, pois precisavam ter.E não basta ter para poder usar, tem que ser novo, tem que ser o último modelo, tem que ser melhor, maior e mais caro, pois assim será reconhecido. Reconhecido pelos amigos e pelos parentes.
Em consultório tenho realizado coaching financeiro com vários clientes. Alguns já vieram apenas para isso. Brinco que são duas análises: a financeira e a da pessoa, que fez sua situação ficar assim. Os resultados têm sido muito positivos.
Quando as pessoas percebem que o reconhecimento que estão buscando não é para os outros, mas para si mesmos e por si mesmos, ficam pasmos. É difícil admitir que a própria pessoa só se atribui valor pelo que tem e não pelo que é.
O estímulo constante ao consumir se apóia exatamente nessa “fragilidade de ego”, e então vive a desafiar, provocar o indivíduo te tal forma que, sem ele perceber que está sendo manipulado, sente-se diminuído se não o fizer e então, num repente, diz: “Eu tenho direito, eu mereço”. Pronto, alvo atingido, gasto feito, tortura financeira estabelecida, cada vez por prazos maiores.
A vaidade humana é a porta de entrada para toda e qualquer intenção que possa ferir a consciência. Quando ela é despertada leva ao “adormecimento” da consciência por tempo necessário para que se concretize o que, não fosse essa necessidade de auto-afirmação, de auto-ostentação, não seria feito.
A matemática numérica não é difícil, mesmo para aqueles que dizem ter problemas com a disciplina. A matemática humana, essa sim é complexa e inexata, pois dois mais dois, na maioria das vezes nem são números, muito menos são concretos.
Busque sua carta de “alforria”. Será surpreendido(a) como nada lhe vai faltar e ainda sobrará.
Paulo Antolîni.
Psicológo, Psicoterapeuta, Administrador e Consultor de Empresas.
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